Crônica da história de amor

Em um dia como outro qualquer, o acaso nos apresentou.
Eu desajeitada, de uniforme e descabelada.
Ele morgado, gentil e marrento.
'um rapaz simpático, o atendente!', minha mãe falou..
Sentada na frente de sua mesa, nossos olhos se esbarravam acompanhados por sorrisos escandalosos meus e discretos dele.
A química foi sentida até por terceiros.
e com a palavra 'SOLTEIRA' como resposta do estado Civil e minha interpretação, as faíscas saltaram.
Conversamos pelo whats formalmente primeiro, depois informalmente...
Nos encontramos algumas vezes, mas os olhos faziam o máximo pra não se encontrar. 
Viramos amigos de uma hora pra outra.
Ele me levou para eventos, e fiz o máximo pra provoca-lo discretamente...
Passava perfume... mexia no cabelo...
Sentava no carro, olhando pela janela pra ele não ver meu sorriso nervoso, o frio na barriga...

Numa sexta-feira 13, escolhi chamar meu novo amigo pra beber e jogar.
A química era tanta que tudo me parecia familiar, a companhia, os gestos, as mãos...
A vontade de beija-lo não era curiosidade, era reencontro, eu sabia exatamente o que esperar...
E naquela noite não importou o lugar ou a ocasião, a necessidade da entrega física era avassaladora
Não entendi como podia ser tão novo e tão familiar ao mesmo tempo.
Não entendia aqueles calafrios que surgiram quando penetrou pela primeira vez...
Ou as pernas tremendo daquela forma, como se apenas fossem ondas elétricas


Os dias foram passando, cada vez conversavamos mais, cada vez sentia que podia contar tudo 
Era amizade acima de tudo..
Me senti confortável e livre com ele...
Um tentava agradar o outro da sua forma, e era notável.
Eu nao queria acreditar que gostava dele. Nao queria nada sério.
'nao acredito que você mal saiu de um relacionamento e já se envolveu com outra pessoa!'
'é só um lance',  eu dizia pra lógica...

Pleno verão, umas duas semanas sem vê-lo, pensei 'testa seu nivel de comprometimento, duvido que vc goste mesmo dele, pega aquele cara lá' - após umas doses de vodka, sozinha em casa há dias.
Foi bom... fisicamente... mas não consegui parar de pensar nele, as vezes de relance achava que era ele...
Na hora lembro de pensar 'não é possivel que eu esteja pensando nele...
Deve ser que lembro dele porque faz mais de um mês que só me entrego pra ele...'
No dia seguinte o vi... me senti culpada... tava com tanto medo... como era possivel já gostar dele assim? Eu tava inconformada comigo mesma! 
De novo, um homem mais velho, com outras perspectivas, com outros desejos e ambições... 
Nao queria um relacionamento como o anterior em que mergulhei de cabeça sem ter certezas.
E eu tive que fazer um teste pra ver que não era só um lance...
Provei pra mim mesma..

Os dias foram passando e estavamos juntos sempre que possivel
Ele fazia o esforço de fazer o papel de motorista todos os dias de manhã cedo e ao anoitecer, após trabalhar o dia todo.
E eu via o esforço dele, o cansaço.
As vezes só queria aninha-lo no meu colo e fazer cafuné, mas me controlava ao maximo, para nao parecer grudenta, pra nao demonstrar que tava rolando sentimento, e com medo de que se ele soubesse ou se conhecesse meu lado câncer romântico e quisesse fujir...
No carnaval viajamos e foi quando percebi que até em silêncio ele me faz bem.
Foi dificil conhecer a mãe, os amigos e não surtar...
Com medo do que iam pensar de mim... com medo de estar ficando sério demais... com medo de sufoca-lo... com medo de que se eu mostrasse que gostava ele perdesse o interesse...
Mas, correu tudo bem, tivemos momentos otimos juntos, conversamos até faltar assunto, rimos até doer a barriga e estavamos sempre perto um do outro..
Ele me mostrou a cidade, me contou histórias do passado, fazia questão de me fazer participar daquilo, e eu tava adorando ter toda aquela atenção, foi quando vi que seria um bom namorado.

Depois, passamos algumas semanas morando juntos...
As vezes eu nao aguentava mais, e as vezes morria de vontade de chegar em casa logo pra vê-lo
Foram dias ótimos, dormiamos juntos, faziamos comidinhas, assistiamos.. 
Eu dormia enquanto ele jogava..
Tinhamos sexo todo dia..
Contavamos o dia um pro outro e riamos muito...
Conversavamos muito.. é o que mais sinto falta!

De um dia pro outro, em meio a turbulências ele disse 'estou indo ai pra me despedir'
Tinhamos as horas contadas... e antes de encontra-lo já sentia falta de ar...
Eu não conseguia aproveitar cada beijo, pq lembrava que eram os ultimos..
Me lembro de estar deitada nos seus braços engolindo o choro pensando na distância, tentando nao te acordar, com frio na barriga, com medo, com aquela sensação de vazio...
E nao dormi, de tanto nervosismo...
Ao amanhacer, ele se foi...
Uma despedida rápida como sempre, como se soubesse que voltaria.

Foram dois meses longe
Dois meses pensando se enfrentar todo mundo ou desistir do que sentia..
Dois meses tentando esquecer... me convencendo que devia deixa-lo ir...
Dois meses que todo dia queria chorar... todo dia desejava um abraço dele...
Dois meses fingindo estar bem... fingindo que não doia por dentro...
Dois meses me convencendo de que não deveria sofrer assim...
Dois meses que testei o tinder e fiz amizades, só pra ter alguem pra conversar e pensar menos nele...
Foi o tinder que me fez pensar 'o que eu sou?' bi? ou hetero?
Sempre tive uma certa atração por garotas, mas nada a além de olhar...
De repente, tinha mulheres interessadas em mim, me dizendo como era melhor com mulher.  
E eu, por comodidade ou costume, encarei o personagem...
Não foi bem uma escolha, só entrei na onda das outras pessoas... só queria parar de sofrer...
Estava convencida de que ele estava com outra, que tinha estado com outras...
Me sentia uma tola, sofrendo por alguem q esta longe, que não sabe se volta, que provavelmente esta com outras e eu aqui, só esperando ele voltar e ouvindo todos me dizendo pra desistir..

Numa noite, estava com raiva dele, nem lembro porque, mas lembro de me sentir inferior, sozinha, boba.. e sai a noite, sozinha...
Havia 'marcado' de encontrar alguns contatos... mas essa era a graça, que eram vários no mesmo lugar... assim nem a possibilidade de escolher surge...plano perfeito...
Como boa libriana e vênus e marte em gêmeos, entro no personagem e crio toda a história na minha cabeça, encarno a mulher do vestido de Drummond e faço experimentos...
Parece diabólico, mas começo que nem percebo e quando vou ver tem três amigos na minha frente disputando a minha atençao, jogando aqueles olhares de suplica 'me da uma chance'.
Sabe o que o personagem faz? provoca, dança, olha, bebe do copo deles.... mas ela não contava com ectasy no copo de um deles...
Lembro de dançar e ver todos os olhares em mim, sentir o desejo deles, a vontade... e lembro do meu desejo  'estar com ele', 'mas ele nao esta aqui e você sofreu dois meses por ele, vai saber se ele nao esta te enganando mesmo, você mesma já percebeu indicios, detalhes... bebe pra esquecer!' disse a diabinha no meu ouvido..
Quando o casal que conversava só pra me divertir e criar expectativa apareceu e me levou pro camarote, já enxergava tudo embassado...
Continuei bebendo... lembro de pensar  'Essa X é muito gostosinha, olha como ta todo mundo olhando pra ela... e ela ME quer? hahahaha adoro'
O gostinho de se sentir interessante, só isso bastava pra mim...
Mas a mistura de substâncias me enganou e quando tomei consciência dos meus atos, tinha acabado de acordar na minha cama no dia seguinte...
Lembro de algumas imagens... e só... lembro de pensar 'você é besta, fica dando exclusividade pra ele, do jeito que ele é, deve ter pegado altas gatas no Rio e você fica ai achando que ele ta na sua, besta!'
Nunca tive autoconfiança necessária pra achar que alguem ia gostar de mim realmente... todos sempre me julgaram pela aparência e eu aceitei como normal...
Sempre me vi tão complicada, que alguem gostar de mim de verdade parecia impossivel, e por isso me apoiei nos personagens...
Sempre tinha algum presente, algum com medo do que os outros pensariam de mim...

No dia seguinte após o acontecido, encontrei com ele. Eram dois meses de saudades, de ciúmes, de raiva, de medo, de dúvida, eu não queria distanciar a gente mais do que a distância já tinha feito...
Nao lembro o que aconteceu exatamente mesmo, depois eu conto pra ele...
E fui adiando... adiando... planejando em falar pessoalmente... mas parecia que era cada vez mais dificil a gente se encontrar...
Disfarçado em outro assunto,  toquei no ponto...
E me sentia tao bem estar contando... era como tirar um peso das costas... não sabia que pesava tanto...
Mas ele fez questao de enfatizar no eu nao ter contado antes...
Expliquei toda a circunstância, como me sentia, o que me levou a aquilo, tudo...
Ele se aferrou ao ciúme...
Agora não quer um a 3 porque vai imaginar o que eu já fiz...
Nem eu sei o que eu fiz...
Nao matei a curiosidade de um a 3...
Matei a curiosidade de saber se conseguia estar na cama com outra mulher, de saber se ia saber fazer as coisas...
Acabei com o medo de fazer errado, e agora tenho confiança ..
Mas ele nao vê assim...

Seguimos a distância, mesmo a uma hora de distância estivemos quase dois meses sem nos encontrar pessoalmente...
Cada vez que marcavamos, e eu desmarcava todas as outras coisas, me organizava, planejava, criava esxpectativa... no fim algo impedia que nos vissemos...
Isso foi muito desgastante... as incertezas... o medo de perder e de ter também....
Finalmente dois dias após meu aniversário e três apos completar 8 meses juntos , nos encontramos!
Ele estava a semanas dando indiretas 'que ia fazer algo que um capricorniano com ascendente em aquário dificilmente faria'
Eu torcendo pra que ele me pedisse em namoro... porque isso ia acabar com as incertezas, seria o cimento da relação... essa seria a prova de que ele me ama...
Eu sou uma pessoa muito romântica e adoro aquelas cenas tipicas de filmes românticos,  adoro receber flores, em público melhor ainda, pq gosto que os outros vejam o armo sendo expresso... por isso faço bilhetes, desenhos, textos.... é a minha forma de expressar que amo alguem, e gosto que os outros vejam como amo essa pessoa, e vice-versa... Traduzindo, uma romântica incorrigível que adora esses passeios de casal, fazer coisas juntos... ai, o carnaval foi maravilhoso!
Mas eu tenho q aprender que ele não é assim, que ele  expressa seu amor e afeto de outras formas mais discretas e nunca em público...
Por isso, sabia que assumir namoro era a forma dele mostrar que me ama...
Me enviou uma imagem, que tem um anagrama, eu tinha que descobrir o que estava escondido e encontrar com ele...

'Namora comigo?'
Eu não podia acreditar... 'eu devo ta inventando... ele querer namorar comigo,hum... acho dificil..'
Tava nervosa...
Não conseguia escolher a roupa... tinha que ser sexy sem ser vulgar, tinha que ser a minha cara, tinha que marcar meu corpo pra que agradasse a vista e também o ego...
Escolhi um vestido azul, com recortes na cintura, simples, apreciando as curvas do meu corpo sem apertar... escolhi a lingerie a dedo... passei um creme da Victoria Secret...Passei perfume... e vesti aquele olhar que conquista com o sorriso de canto..
Nos encontramos e parecia que tudo que haviamos conversado pelas redes sociais haviado desaparecido, começamos a conversar sobre tudo, coisas importantes e pequenos detalhes..
Eu fingia que o frio na barriga não estava ali, e lhe olhava nos olhos com segurança.
Fomos a praia, era de noite...
E ali, no escuro sob a luz da lua, encostados numa mesinha saciamos o desejo carnal... em meio a beijos, carinhos, olhares...
Sexo é algo muito intenso na nossa relação, e muito presente...
Depois sentamos um de frente pro outro.. ele perguntou seu eu tinha descoberto o anagram...
Eu disse que achava que sim... mas não tinha certeza...
'Você aceita?'
Claaaro que eu aceito, tava com taantas saudades!
E me entregou uma caixinha vemelha que tinha um colar com um pingente de carangueijo escrito 'Parece Piada', a nossa música... e 13/11/2015 primeira vez que ficamos... uma sexta-feira treze...
Eu não acreditei que era real, superou todas minhas expectativas, me emocionou...
Agora eu tenho certeza de qual é a direção...
Agora assumi um compromisso! Agora devo fidelidade, respeito e atenção...

Encontrar com ele é tão bom... saber que vou encontra-lo, também é otimo, me dá forças...
Mas ficar desapontada porque não consegui encontra-lo é horrivel... é pior ver a distância interferindo... o ciúme comandando.. as dúvidas.. os medos.... a saudade...
Mas tudo desaparece quando estou nos braços dele, quando acaricio seu rosto, quando sinto sua respiração no meu ouvido, seus labios nos meus, suas mãos no meu cabelo, na minha cintura...
É dificil lidar com essa distância... é dificil nao conversar todo dia, não contar tudo que aconteceu... mas não escrevendo, pq perde a graça... é dificil não fazer parte da vida do outro presencialmente...
É dificil se comunicar com o outro apenas por mensagens... pq assim não da pra sentir o outro, não dá pra identificar a interpretação que a pessoa ta colocando... torna tudo mais robotizado...

Faço o possivel pra encontrar c ele... economizo ao maximo, faço as atividades antes, me organizo pra fazer tudo antes e ter disponibilidade pra ele...
E quando estamos juntos é sempre contra o tempo, e ele passa tão rapido...

Agora conseguimos nos ver mais seguido... mas nunca parece ser suficiente... sempre queremos mais...
Mas aproveitamos o tempo juntos... principalmente quando estamos a sós e podemos ser sem máscaras e sem nada a esconder...
Agora estamos indecisos...
Ele investigou tudo sobre aquele a 3... assim, de repente... após um final de semana maravilhoso, sem mais nem menos, desenterrou o que eu já tinha esquecido... mexeu no meu whatsapp, no meu facebook, só pra trazer de volta toda a raiva e o ciúme..
Não importa o que eu fale, ele vai se sentir enganado....
Falou que ao meu lado fica enojado...
Que não confia em mim...
Que faço ele sofrer...

Eu só queria fazer ele feliz... só queria cuidar dele...
Queria controlar o ciúme..
Queria me sentir segura, pra não ter ciúmes...
Queria ter certeza de que esses momentos ruins serão recompensados no futuro
Queria ter certeza de que consigo faze-lo feliz
Queria ter certeza de que seria feliz ao lado dele
Queria ter certeza de nunca mais ter dúvidas
Queria ter certeza que vai dar certo...




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